domingo, 1 de maio de 2016

Anna Apolinário








Travessia

Minha verve se contorce num beco escuro
Atiro paredes contra meus soluços
Vandalizo caminhos com os meus pés mudos
Brinco insana sob labaredas


xxx


Caça

Minha palavra é rapina
que mutila
tuas liturgias

Autópsia de anjos ápteros vingados
Caligrafia de intempéries
Surto de miocárdios

Escuto meu sangue correndo Espingarda canção
entre leões


xxx


Rugidos

Minha boca é um coágulo lírico
Sutura que sangra poesia
Minha pele se emaranha em flamas
E o meu olhar se enlua

Um obus de beijos trucida minha nuca
Línguas faíscam em meu pescoço
Esfrego gritos entre os seios
Nas têmporas martelo o prego do segredo


xxx


Selvática

Morder a polpa da palavra
Violentar o verbo

Açoite
Até que o rubro escoe

Atingir o cerne
Com sabre, punhal

Lacerar o arco e a lira
Alvo metafísico

Colisão cáustica
Matilha sádica

Eu quero o aborto
da aurora boreal 





Anna Apolinário (João Pessoa/PB), pela graça de Deus, ou do diabo, é poeta. Publicou os livros Solfejo de Eros (CBJE, 2010) e Mistrais (Prêmio Literário Augusto dos Anjos Funesc PB, 2014).




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